Após 13 anos de sucesso, trail deixa de ser fabricada e abre espaço para a nova aventureira média da marca japonesa
Lançada no início de 2005 no Brasil, a XT 660R foi criada para substituir a famosa XT 600 da Yamaha, porém com visual e motor mais modernos. Uma verdadeira trail de uso misto em sua melhor forma. Rodas raiadas, aro 21 na dianteira, suspensões de longo curso e a proposta de encarar qualquer estrada. Fosse para um passeio pela cidade, uma viagem, uma aventura off-road, a “XT meia-meia-zero”, como é chamada pelos seus fãs, fazia o trabalho.
Agora em 2018, 13 anos depois, a Yamaha aposenta a XT 660R no Brasil – assim como aconteceu na Europa em 2016. Embora não tenha se pronunciado oficialmente, um comunicado direcionado aos concessionários da marca agitou as redes sociais e os grupos de WhatsApp na última semana de janeiro. “Comunicamos a descontinuidade da produção e o encerramento do estoque de fábrica do modelo XT 660R”, afirmava a circular administrativa. Estava decretado, então, o fim de uma era.
A “XTzona” e suas variantes, como a Ténéré XT 660Z, equipadas com o monocilíndrico de exatos 659,7 cm³ não serão mais produzidas, pois esse moto não atende às novas normas de emissão de poluentes europeias. Como muitos componentes de seu motor eram importados, a Yamaha Brasil também teve de aposentar o modelo.
Sucesso robusto
Ao longo dos 13 anos em que esteve nas lojas (2005-2017), a XT 660R foi um sucesso: 30.110 unidades foram emplacadas, segundo dados do Denatran. Uma média de 2.316 vendidas anualmente, o que lhe garantiu a liderança do segmento Maxitrail por muitos anos.
Equipada com um robusto motor de um cilindro, a XT 660R trouxe diversas tecnologias modernas à época do seu lançamento, como injeção de combustível, pistão forjado e outras peças internas leves. Com refrigeração líquida, comando simples no cabeçote para controlar as quatro válvulas, o monocilíndrico produzia razoáveis 48 cavalos de potência máxima a 6.000 rpm.
Mas foi seu torque máximo de 5,95 kgf.m atingido a 5.520 giros que “conquistou” corações. Quem nunca sentiu “o soco no estômago” de um monocilíndrico de grande capacidade não sabe o que está perdendo. Basta girar o acelerador para disparar na frente dos outros carros e motos no semáforo. Ou ainda aproveitar o torque que, de acordo com os fãs, faz com que ela suba “até parede”. Pilotar a XT 660R com tranquilidade é quase impossível, a cada arrancada, uma nova emoção.
Sua ciclística trail “puro-sangue” com rodas raiadas de 21 polegadas na dianteira, suspensões de longo curso, guidão largo e silhueta esguia também é outra razão para o seu sucesso. Um verdadeiro “trator” de duas rodas.
O quadro do tipo diamante, o garfo telescópico na dianteira e a balança traseira monoamortecida proporcionavam uma excelente distância livre do solo: 21 cm, o suficiente para superar obstáculos e até arriscar uma trilha mais pesada. Mas o banco a 86,5 cm do solo intimidava os mais baixinhos. O sistema de freios usava disco nas duas rodas.
Embora siga a receita clássica das trails, a XT 660R tinha um design atual e tecnologia moderna. O ar de modernidade vinha da injeção eletrônica e também do painel completamente digital, até então incomum nas motos do segmento. O bom acabamento também ajudou a XT 660R substituir com honras a sua antecessora – comandos modernos, rodas e guidão de alumínio e um pequeno parabrisa eram alguns itens que chamavam a atenção quando chegou ao mercado.
Versões
O conjunto mecânico foi tão bem-sucedido que a Yamaha produziu outras versões da XT 660. Pouco tempo após seu lançamento, serviu como base para a supermotard XT 660X, que tinha rodas de alumínio de 17 polegadas calçadas com pneus esportivos – infelizmente, a versão “X” nunca foi vendida no Brasil.
Em 2008, chegou ao nosso mercado a MT-03, que usava o motor de um cilindro em um conjunto naked e urbano. Equipada com rodas aro 17 e um design ousado, essa versão, entretanto, teve vida curta: só ficou a venda por um ano.
Apesar de sua versatilidade, a XT 660R tinha algumas limitações para viagens mais longas. Seu banco de espuma fina cansava e a autonomia do tanque de 15 litros era baixa. Com isso, a Yamaha relançou outro clássico em 2008: a XT 660Z Ténéré.
Com quadro e suspensões diferentes, a nova geração da Ténéré usava o mesmo motor de 660cc e desembarcou no Brasil em meados de 2011. Com proposta mais aventureira, oferecia conforto e autonomia com seu tanque de 23 litros. O modelo também parou de ser produzido no País em 2017.
Uma nova era de dois cilindros
Os fãs da XT encheram os posts nas mídias sociais e os grupos de discussão com críticas à aposentadoria do modelo, além de dúvidas sobre o futuro das aventureiras da Yamaha. A única certeza é que a sucessora da XT 660R e da XT 660Z Ténéré não será monocilíndrica.
Embora de manutenção simples e torque abundante, os motores de um cilindro com grande capacidade têm consumo de combustível e emissão de poluentes altos para os padrões atuais. Segundo fontes ligadas à fábrica, o valor para desenvolver um monocilíndrico moderno não se justificaria. Por isso mesmo, a Yamaha já prometeu uma nova aventureira de 700cc, equipada com o mesmo motor de dois cilindros da naked MT-07.
Com 689 cm³, o bicilíndrico de 75 cv de potência e torque desde os baixos giros deve dar vida à nova Ténéré 700. Apresentada pela primeira vez no Salão de Milão 2016 como conceito, a T7, ou Ténéré 700, tem uma proposta mais aventureira, com tanque grande e controles eletrônicos. Tudo para brigar com modelos como a BMW F 800GS e a Triumph Tiger 800 que, já há alguns anos, vinham superando a linha XT 660 nas vendas.
Mas e quanto à versão trail? Infelizmente, tudo indica que não haverá uma versão trail “pura”, leve com tanque pequeno e medidas enxutas como a XT 660R, pois a Yamaha deverá investir em uma bigtrail com tecnologia e conforto para longas viagens. Mas os fãs podem ficar tranquilos que a roda de 21 polegadas e a vocação off-road deverão ser características da futura aventureira da Yamaha. Mas o monocilíndrico explosivo deverá ficar no passado.
Por Agência Infomoto