O piloto paranaense Lincoln Berrocal de 60 anos, ganhou notoriedade no Rally Dakar por ser o motociclista mais velho da competição. Ele conta que a decisão em participar do Dakar foi tomando forma, mas que exigiu uma preparação nada fácil como piloto de Rally antes de ser aceito.
Em um evento festivo da Federação Paranaense de Motociclismo, onde seriam homenageados e premiados os principais nomes do motociclismo paranaense, o piloto Lincoln Berrocal aceitou conversar um pouco conosco. Apesar de toda a sua experiência anterior em motociclismo de nada adiantou para ser aceito no Rally Dakar. Antes disso, precisou fazer algumas provas no Rally Series para então participar em uma das provas mais difíceis do mundo, senão a mais difícil em termos de resistência tanto física quanto mental.
O fato de ter ficado conhecido como o piloto de moto mais velho do Dakar não o incomodou, pelo contrário. Ele acredita que isso tenha feito com que outras pessoas na faixa dos 40, que já estavam pensando em desistir do motociclismo, olhassem com outros olhos o fator idade como limitador.
Foi extremamente imparcial ao contar que a sua desclassificação aconteceu por um erro pessoal, apesar de estar com uma moto que foi montada às pressas. A moto que era para ele participar teve problemas mecânicos.
Tudo de Motos: Como aconteceu a desclassificação Rally Dakar, foi por causa da substituição da sua moto no último momento?
Lincoln Berrocal – Na realidade não foi. Eu realmente tive problemas com o combustível na moto. Essa moto não tinha o tanque traseiro compatível com a prova. Eu tinha que ter no mínimo 27 litros de combustível e minha moto não chegava a 20 litros. Eu tive problemas de combustível quase todos os dias. Nos deslocamentos, a maioria dos pilotos fazia uma parada para abastecimento e eu tinha que parar duas ou três vezes. Isso foi uma parte muito estressante da prova e atrapalhou bastante.
Mas a parte principal (o motivo principal) foi essa: eu fui desclassificado no final da sétima etapa porque eu não passei nos Waypoints (pontos de verificação) e você tem que cumprir os Waypoints. Eu havia me perdido, sabia que estava perdido. Tentei voltar, mas nós entramos num cânion e nesse cânion vinham motos, quadriciclos e eu não pude voltar (contra-mão) para validar. Se você perde 3 Waypoints seguidos você é desclassificado. E foi por esse motivo que eu fui desclassificado.
TM: A moto substituída atrapalhou apenas no desempenho então…
LB – Essa moto foi montada em cima da hora, porque a minha moto deu problema. O tanque de combustível chegou no segundo dia (de prova). No primeiro dia eu só terminei porque eram 90 km apenas. E esse tanque não era compatível com o Dakar. Eu segui, mas aos trancos e barrancos. Chegava no fim da noite tinha que correr atrás de combustível. Isso foi bem cansativo.
TM: Você já passou por várias outras provas e tantas outras aventuras como a Transamazônica, Ushuaia… Você considera o Dakar a experiência principal em termos de dificuldade?
LB – É a principal experiência para todos os pilotos do mundo. É a prova mais radical do mundo em termos de rally. Seria como o Everst para quem gosta de escalar. O Dakar hoje é a prova off-road mais famosa do mundo. Ela só perde em mídia para a Copa do Mundo e Olimpíada. Ela entra em vários países, abrange um número de expectadores maior do que a Fórmula 1.
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TM: Você imaginava ser o piloto mais velho de motos do Dakar? Isso incomodou você?
LB – São poucas as pessoas no mundo que com 60 anos participam de um Dakar. Não é só fazer a inscrição e participar do Dakar. Tem uma “peneira” bem seletiva para chegar ao gate. Foi bem difícil, mas eu consegui ser selecionado. São somente 130 participantes do mundo inteiro. São poucos os pilotos com 60 anos que chegam até lá. Não sei quantos até hoje foram. O fato de ser o mais velho deu uma p… notoriedade mesmo. De certa forma ajudou a divulgar… Fiz muitos amigos… Pessoas com 40, 45 anos já querendo abandonar as motocicletas… (dizem) “Pô o Lincoln está com 60! Vou tirar minha moto da garagem, vou viver minha vida, curtir… Porque é da moto que eu gosto.” Então eu acho que incentivei motociclistas, principalmente os de meia idade a querer participar.
O motociclismo é fantástico. O pessoal é tudo amigo. É uma alegria. As amizades que eu conquistei no Dakar, do mundo inteiro, foi uma coisa impressionante. Foi uma prova muito gratificante.
TM: Então ano que vem tem mais?
LB – Estamos estudando… Esse ano eu entrei com recursos próprios… Se tiver uma participação para o ano que vem, vai ser para participar numa boa. Terminar as etapas sem estresse. Me concentrar apenas na minha pilotagem.
Vamos aguardar…